O Nome do Vento


Muitas trilogias já fizeram sucesso, seja em filmes, livros ou jogos. Quem nunca ouviu falar de Star Wars, Matrix, O Senhor dos Anéis, os filmes do Batman de Christopher Nolan, dentre tantos outros exemplos? É como se houvesse uma espécie de relação entre a quantidade de obras e o sucesso. Mesmo o renomado escritor Douglas Adams apelidou a sua série de livros como “Trilogia de Cinco”, acredito que a origem do termo é muito mais irônica do que baseada em misticismo, contudo, não se pode ignorar o uso do termo. Talvez os escritores e diretores acreditem numa espécie de magia com relação ao número três, talvez seja a prova de um pacto com forças malignas. Não faço a mínima ideia. Tudo o que quero é apresenta-los a uma trilogia não muito famosa, mas que é diferente de muitos dos livros atualmente escritos. 

O livro é “O Nome do Vento”, escrito por Patrick Rothfuss, isso é tudo o que revelarei. Não pretendo importuná-los com resumos, não sou objetivo o bastante e o que não falta é informação na nossa querida interwebs. Pretendo importuná-los com minhas impressões a respeito do livro, com a surpresa que senti ao descobrir como a estória seria narrada, com o prazer que sinto toda vez que leio suas páginas e percebo quão bem escrito ele é. Esqueça-se dos personagens aos quais vocês foram acostumados, esqueçam-se do mundo cheio de pessoas boas e alegres que são contaminadas por vilões sujos e asquerosos. Esqueça-se do mundo infantil e idílico que esses livros criaram. Agora seja bem vindo ao mundo de Kvothe, um mundo selvagem, violento, inóspito e muito, muito perigoso.
A grande maioria dos autores usa um narrador em 3ª pessoa, poucos se arriscam a usar um narrador em 1ª pessoa, suponho que pela dificuldade em poder revelar fatos que sejam estranhos ao personagem. Alguns escritores se aventuram por uma estrada mais perigosa e tentam narrar suas estórias com um narrador-personagem. Todavia, alguns escritores enveredam por um caminho muito mais sinuoso e complexo, esses tentam criar um narrador que ao mesmo tempo seja personagem e tenha um profundo conhecimento do mundo ao seu redor. É isso o que Patrick faz com maestria, diga-se de passagem. O personagem que ao mesmo tempo é narrador e protagonista nos proporciona impressões que seriam impossíveis para um narrador imparcial, ainda que onisciente. Acredito que dos maiores problemas ao contar uma estória dessa forma, seja a dependência criada em relação ao personagem que servirá como narrador, se ele não for cativante o suficiente toda a trama será prejudicada. Claro que isso é uma faca de dois gumes, da mesma forma que um personagem fraco debilitará a estória, a presença de um personagem simpático e agradável irá aumentar o carinho do leitor pela trama. Felizmente “O Nome do Vento” conta com um dos melhores protagonistas que já vi.
Kvothe é tudo o que se pode esperar de um protagonista que se preze, e um pouco mais. É incrivelmente inteligente, engraçado, agradável, possui o desprezo necessário por autoridades, bondoso, ambicioso, além de sempre estar rodeado de belas mulheres (apesar de se demonstrar bastante inepto no primeiro livro). Diferentemente de alguns protagonistas Kvothe rouba, engana, iludi faz o que for necessário para chegar aos seus intentos, às vezes com boa intenção, às vezes não. Mas quem é perfeito? Não o nosso Kvothe. Patrick tenta fugir do clichê do protagonista com “aprendizado dinâmico”, hoje aprende a usar uma espada, amanhã se torna um bom guerreiro, daqui a uma semana derrota “o lendário imperador maligno” que mergulhou o reino no mais profundo caos e desespero. Não, apesar da sua assombrosa inteligência, a velocidade de aprendizado de Kvothe é bastante aceitável.
Falar sobre o universo de “O Nome do Vento” é complicado, apesar de ser bem formulado, simples e complexo, é sempre difícil não estabelecer uma comparação direta com o universo de Tolkien (Senhor dos Anéis). Sempre que ouço falar de uma estória épica com um universo fantasioso, eu já me preparo para os elfos, anões, trolls e tantas outras criaturas. Criaturas essas que são totalmente ignoradas por Patrick, para ele existem os “Encantados”, não muito comentados no 1º livro, mas que claramente se distinguem das criaturas místicas as quais fomos acostumados. Existe magia, mas não da forma habitual. Nesse universo os praticantes não usam o termo “magia”, mas “simpatia”, um processo ao mesmo tempo simples e complexo, distante de quase todos, aonde poucos o conhecem e menos ainda são aptos para a utilizarem de forma correta.
 Como parece ser comum a estórias épicas, o livro é uma trilogia, aonde “O Nome do Vento” é apenas o primeiro da “Crônica do Matador do Rei”. Nunca fui um leitor que abençoado com o dom da paciência, sempre que começo a ler uma saga gosto de lê-la de uma vez, infelizmente dessa vez fui impedido. Apenas os dois primeiros livros foram escritos, e a data de previsão para o lançamento do último é para apenas 2014. O mais frustrante é que essa trilogia é simplesmente sensacional, sob praticamente todos os aspectos ela é perfeita. Estou escrevendo esse texto após ter lido o segundo livro da saga e posso dizer que Patrick não errou a mão em nenhum momento, são livros sensacionais. Mesmo as coisas que podem causar certa frustração em algumas pessoas são perdoadas por mim, como o hábito que o Kvothe mais velho tem de dar spoilers. Não são informações fundamentais, mas de vez em quando ele lança um ou outro detalhe antes da hora, assim como a morte em “A menina que Roubava Livros”. Não que para mim seja algum problema, da forma como é feito nessa trama, ajuda a preparar o leitor para acontecimentos mais dramáticos.
“O Nome do Vento” não é um livro comum, possui uma qualidade narrativa invejável, personagens e situações fantásticos. Para aqueles que gostam de “Harry Potter”, esqueçam-se do protagonista bom com um caráter incorruptível. Para aqueles que gostam de Tolkien, esqueçam-se dos personagens quase que totalmente insossos. Para os fãs da “Crônicas dos Reis”, lembrem-se do universo pesado, cheio de personagens dúbios e complexos; no entanto, sem a narrativa partida que impede a total identificação com os personagens. “O Nome do Vento” é algo totalmente novo que irá surpreendê-lo a cada página, mesmo com sua clara falta de ação, você não irá conseguir parar de ler. E talvez um dia, esse livro figure entre grandes estórias como Harry Potter, Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia e tantas outras.
Para aqueles com um mínimo de compreensão do inglês, existem algumas imagens feitas com alguns dos melhores feitos do nosso herói:
http://www.quickmeme.com/Advice-Kvothe/newest/1/?upcoming





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