Uma questão delicada

Essa postagem não terá uma apresentação longa, por se tratar de um tema muito complexo, consequentemente tive de escrever um texto bem mais longo que o normal, portanto se não quiserem ler muito, pensar muito, ou se quiserem um texto bem escrito não continuem a ler. Do contrário, espero que eu possa fazê-los refletir.

Como falei anteriormente, nós do blog não costumamos falar sobre assuntos sérios, mas de vez em quando é válido refletir sobre algumas questões. E com a nova lei que foi aprovada recentemente com relação a bebês anencéfalos, essa discussão só foi revivida. A partir de qual momento é válida a prática do aborto? Ou por outro lado a prática do aborto é um crime aos direitos humanos? O aborto é um homicídio? Pode-se considerar um feto como um ser humano? Não tenciono realmente responder a nenhuma dessas questões, até porque pessoas muito mais capazes não conseguiram, logo quem sou eu para ter a pretensão de fazê-lo? Simplesmente tentarei colocá-las da maneira mais objetiva possível para quem possam ter um quadro geral dessa situação e assim tirar suas próprias conclusões. Tendo dito isso, peço que não vejam o que eu venha a escrever como uma opinião pessoal, simplesmente tentarei expor fatos, ou o que entendo por fatos.
A Constituição Brasileira atual permite que o aborto seja praticado nas seguintes situações: gravidez causada por estupro, quando a gravidez coloca a mãe em risco e em casos de bebês anencéfalos. Ou seja, no Brasil o aborto não é totalmente permitido. Com a nova lei aprovada, permitindo aborto em bebês anencéfalos, muitos disseram que isso abriria precedentes para que ele seja totalmente legalizado. Como todos sabem essa é uma questão incrivelmente delicada e ambígua, pessoas religiosas serão totalmente contra. Conversando com colegas católicos e espíritas tive uma amostra da visão dessas doutrinas, ambos foram totalmente contra qualquer tipo de aborto. Os argumentos usados foram de que o aborto é um crime, assassinato, uma afronta à Constituição Brasileira, que diz que todo ser humano tem direito à vida. Também foi dito que o maior índice de mulheres com câncer no colo do útero é naquelas que praticaram aborto. Argumentos fortes e racionais, que conseguem muito bem torná-la em uma  prática ilegítima. No entanto sempre há contra-argumentos. Uma mulher que foi estuprada e acabou engravidando tem de ter o filho? Uma mulher tem que arriscar a sua vida para ter um bebê?(em caso de gravidez de risco) Claro que muitas mães correrão todos os riscos para poder ter os seus filhos, mas e aquelas que não estiverem dispostas por uma série de motivos? Devem ser forçadas a lidar com uma gravidez indesejada? Devem privar os seus outros filhos de ter uma mãe para poder dar vida a outro?
O assunto não é fácil, acredito que situações como essas, não só abortos, mas tão complexas quanto, não se pode definir nada. Ou seja, cada caso é um caso. Uma mulher que foi estuprada pode considerar que a criança não tem culpa do que um homem fez, e portanto não merece morrer. Da mesma forma que uma mulher que já tem filhos e agora está numa gravidez de risco não deseja privar os seus demais filhos de ter uma mãe, e portanto opta por abortar. Algumas delas está errada? Será que existe alguém capaz de julgar isso de forma correta e justa para todos? É claro que não, e tudo o que podemos fazer é tentar e torcer para que tenhamos feito a coisa certa.
Permitir que mulheres com bebês anencéfalos possam abortar é dar liberdade a essas mães para que possam pesar o que é melhor, não só para elas, mas também para os bebês. Pensem comigo, um bebê anencéfalo será diferente dos demais, pode ser muito diferente ou pouco diferente. Não quero aqui pregar uma ideia de que quem é diferente deve morrer, pelo contrário. Mas em alguns casos o dano ao cérebro é tão grande, que impedirá do bebê ter uma vida minimamente normal, na verdade ele nunca poderá cuidar de si mesmo, na verdade ele nunca poderá sair de uma cama, na verdade ele nunca poderá fazer nada do que desejar por conta própria. E essa questão acaba se encontrando com a da eutanásia. Um ser humano privado de fazer qualquer coisa por conta própria está vivendo? Não seria mais misericordioso permitir que ele tenha uma morte rápida e sem sofrimento? Eu honestamente não sei. Alguns muito religiosos poderão sempre acreditar num milagre, pouco provável, mas nunca impossível. No entanto, essa crença em um primeiro momento não nos levará a lugar nenhum, portanto o que fazer?
Muitos são terminantemente contra o aborto, o veem como homicídio. Acreditam que em nenhuma hipótese o bebê deverá ser morto. Não discordo totalmente deles. Afinal uma mulher que tem uma vida promíscua, acaba por engravidar, mas não quer ter um bebê, se o aborto fosse liberado, ela simplesmente iria numa clínica e o faria. Uma situação nem um pouco complexa, aí o aborto é totalmente abominável. Contudo existem situações ainda mais dúbias, uma mulher do sertão nordestino que vive em estado de extrema miséria. Ela sequer tem o que comer e acaba engravidando, o que ela deveria fazer? Ter o filho e esperar por um milagre ou abortar, evitar que o filho morra de fome, cometendo assim um homicídio. Honestamente não consigo ter uma opinião definida numa situação dessas, não posso dizer o que é certo ou errado e acho que ninguém pode.
Poderia escrever uma série de exemplos onde o aborto pode ser considerado como um mal necessário e inúmeras situações onde essa prática seria nada mais nada menos do que simples assassinato. Já me disseram que eu nunca coloco a minha própria opinião sobre os assuntos que levanto nos meus textos, e esse não me ajuda nem um pouco a fazê-lo. Tudo o que posso dizer é que em algumas situações acho que o aborto é válido, mas ainda assim não posso dizer se é realmente certo. Espero que tenha conseguido colocar essa questão de forma objetiva e clara. Se em algum momento usei expressões fortes, me perdoem, não queria causar nada, só estava tentando ser o mais objetivo possível. Enfim é isso, espero que tenham gostado e que consigam tirar as suas próprias conclusões.

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