House- O fim chegou


Era madrugada e estava zapeando na televisão, quando me deparei com um programa qualquer que estava sendo exibido na rede Record. Achei que valeria a pena gastar um pouco do meu precioso tempo e verificar se aquela série atenderia às minhas expectativas, infelizmente não atendeu. As minhas primeiras impressões foram as piores possíveis. Diálogos confusos, diagnósticos incompreensíveis, uma total perda de tempo. Mesmo com uma série de boas críticas por parte dos meus amigos (Igor), não achava que a série merecia a menor gota de atenção. Quem diria que as coisas iriam mudar tão drasticamente? Acabo de assistir o último episódio, da última temporada. Para aqueles que começaram a ler o texto sem ler o título (isso é possível), eu irei falar sobre House.  

A minha mãe não consegue entender como essa série consegue fazer tanto sucesso, afinal qual é a graça em assistir um médico narcisista/rabugento salvar vidas, com o detalhe dele estar sempre sob efeito de analgésicos? Para alguns a resposta já vem com a pergunta, estamos cansados de ver médicos tradicionais tendo casos tradicionais. E eu tenho de concordar que sou um desses cansados da mesmice. Sou um daqueles apaixonados pela espontaneidade desse velho que conseguiu conquistar uma legião de fãs. O interessante é que eu comecei a assistir House só para me sentir inteligente, não conseguia acompanhar os diagnósticos, não conseguia acompanhar as discussões filosóficas, simplesmente rir das piadas mais simples fazia com que eu me sentisse mais sábio. Mas agora tenho a prepotência de dizer que cresci e por isso fiquei mais inteligente, portanto, agora sou capaz de seguir aqueles diálogos tão complexos e ao mesmo tempo tão gostosos. Infelizmente sei que isso é mentira, apesar do tempo que se passou, continuo perdido no meio de tantas palavras, de tantos significados. Entretanto, o sentimento de alegria se mantém e isso é o que importa.
 Além de a série exigir uma capacidade intelectual um pouco mais elevada, há outro requisito básico. Ou você aceita um médico cheio de falhas de caráter, ou você simplesmente não conseguirá aceitá-lo. “As pessoas não mudam”. “Todo mundo mente”. O que se pode esperar de uma pessoa que tem esses paradigmas? Além da visível falta de confiança na bondade humana, existem o óbvio problema com drogas e o notório ateísmo, coisas que podem afetar a algumas pessoas (minha mãe). Essas características não mudam, não importa o quanto você odeie suas atitudes, não importa o quão errado elas possam parecer, ele não irá mudar. Não quero dizer que ele está certo, muito pelo contrário. É óbvio em alguns momentos os seus erros, talvez a única coisa que valha a pena de suas atitudes, seja a sua persistência em manter a coerência nas suas atitudes. É interessante ver uma pessoa tentar agir de forma racional sempre, é interessante ver uma pessoa sempre disposta a obter o que quer não importando os meios. 
Esse talvez seja um dos elementos que mais me fizeram pensar ao assistir House. O limite do que se deseja e do que se faz. “A lealdade é apenas uma ferramenta para se fazer o que não se quer.” Quando ouço o Dr. Gregory House dizer uma frase dessas lembro-me de famoso filósofo Nietzsche, que considerava a virtude como uma forma do covarde desistir dos seus sonhos porque é mais fácil, agir como os outros esperam por medo de impor seus próprios desejos. Esse medo, essa insegurança é algo que não falta a House. Não importa o que seja, se ele quiser, irá usar todos os meios ao seu alcance para conseguir atingir suas metas. Às vezes essas atitudes serão as mais odiosas possíveis, às vezes você desejará que ele simplesmente faça o certo e se esqueça dos seus próprios desejos. Mas ele não é assim, não há motivo para ignorar os seus desejos em prol de outra pessoa, afinal não existe Deus, não existe um paraíso, então por que curvar-se perante uma moralidade ilegítima?
 A série foi baseada nos contos de Sherlock Holmes, por isso os casos são repletos de investigações a respeito do passado dos pacientes. Por isso a relação tão próxima entre House e Wilson, é uma analogia à amizade de Watson e Holmes. Muito conturbada, muito complexa, muitas vezes encarada com uma ótica preconceituosa e considerada homossexual. Não chego a considera-los dessa forma, pelo menos entre House e Wilson, não há a menor inclinação de um suposto amor entre os dois. Para mim, o que realmente existe é uma troca emocional atípica. Normalmente um homem relaciona-se com uma mulher não somente fisicamente, mas também emocionalmente. Não é esse o caso, toda a dependência emocional que poderiam ter por uma mulher foi transferida para o amigo, a necessidade sexual se mantém comum, contudo, aquele que irá dividir os seus problemas emocionais não será a sua parceira, mas sim o seu melhor amigo. 
 Esse foi o meu humilde tributo a uma das séries que mais me marcaram, uma série que mudou a minha forma de ver a vida. Apesar de todos os maus exemplos presentes, gosto de imaginar que fui capaz de ignorá-los e de me focar somente nos bons. Infelizmente o fim chegou, mas é inevitável. Espero ter conseguido passar um ou outro elemento dessa magnífica série.

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